sábado, 15 de dezembro de 2007

Realização

Clap clap clap. Ouve-se a platéia, no estádio inteiro, aplaudindo com veemência aquele que foi o melhor show de sua carreira, na sua opinião. Também, quem poderia imaginar que aquilo aconteceria na vida dele? Depois de tanto se esforçar tinha finalmente conseguido formar uma banda com um grupo de músicos fodas e dispostos a tocarem as composições dele.

"Que merda é essa?" Diziam seus amigos da faculdade de música. Não era muito trabalhada, era verdade, mas fazia sucesso, as pessoas de hoje em dia não querem saber de qualidade, e sim de músicas de fácil digestão. E ele sabia exatamente como se aproveitar disso. Começou a compor sem se preocupar com letras, com arranjos complicados, com atitude no palco... Tocava com playback, gravava com os músicos, mas fazia os shows sozinho.

E fez muitos, muitos shows. Tocou em estádios, casamentos, puteiros, eventos, festivais, etc. Até que uma hora, na prévia de lançamento do seu segundo CD e na comemoração de um ano de carreira impecável aos olhos da nação, ele decidiu parar com aquilo. Onde ele estava com a cabeça? Estudou 4h por dia durante anos, as vezes até mais, para que pudesse tocar com seus ídolos, e nunca conseguiu. A realidade não era essa, fazer shows com playbacks já não lhe dava prazer e esqueceu tudo o que sabia para compor qualquer coisa, rasa, que lhe tirava o antigo espírito de músico.

Mas em dado momento essa história o encheu. Iria mudar isso e iria mudar naquele momento! Marcou um show com dois meses de antecedência, para que pudesse se preparar, e começou o trabalho pesado. Trabalhou em cima das músicas dele e estudou feito um condenado, como nos velhos tempos, as velhas apostilas e métodos de guitarra. Ia fazer o show com seus velhos companheiros, que aceitaram de prontidão, visto o dinheiro que iria rolar.

Durante esses dois meses sua vida basicamente se reduziu ao quarto, cozinha, quarto, cozinha, sala, quarto. Sempre com alguma coisa na mão relacionada ao trabalho. Até a chegada do grande dia. Suava litros, como se fosse o primeiro dia que fez um show ao vivo. Tocou como nunca tinha tocado antes, de um jeito completamente novo e desafiador.

Voltou para a casa com a sensação de realização.

Continuou curtindo seu orgasmo profissional até quando viu a crítica no jornal do dia seguinte, dizendo que sua popularidade caiu. Milhares de cartas de fãs dizendo que ele tinha perdido a raiz, tinha perdido a noção das coisas e talz. Foi aí que até seu empresário boicotou a saída do segundo CD, que só conseguiu gravar graças a amizade com donos de estúdio e com a grana acumulada nos tempos áureos.

Em quatro meses perdeu tudo o que tinha conseguido com a sua música ruim. A sua música, agora digna de ser apreciada pelos ouvidos mais treinados, lhe rendia alguns trocados para o café na padaria. Trabalha hoje como gigolô.

4 comentários:

Slash disse...

nossa, que post legal! =D

Raphael Rocha disse...

nossa, que post legal! =D

Bruno Bello disse...

nossa, que post legal! =D

Fernando Vidotto disse...

nossa, que post legal! =D