sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Linda, loura...

São 2 e meia da tarde.
Ela, linda, loura, treme perante o inevitável.
Olha para os lados; se assusta à menor movimentação próxima a seu corpo escultural.
Reclama baixinho da injustiça tremenda que Deus comete com um ser tão belo assim.
Até a pintura feia e gasta do ponto de ônibus parece ficar mais feia e gasta perto dela.
As gotas de suor vão percorrendo pouco a pouco toda a extensão de seu pescoço até o início do decote que homem nenhum, são ou insano, ousa desviar os olhos.
As mulheres a odeiam. TODAS, sem exceção. Até sua mãe a destrata em relação às outras filhas. As filhas normais, como ela costuma resmungar pra si mesma.
Aos poucos, com seus sublimes olhos verdes, identifica o vulto vermelho se aproximando no horizonte.
Ela dá sinal. O veiculo pára.
Começou...
O motorista, tão gordo quanto pode, freia alguns metros adiante somente para acompanhar seu andar sensual até a porta.
Na placa: Paraíso, mas para ela, loura e linda deste jeito, é o inferno...
Ao olhar além do cobrador com cara de fuinha, sempre a mesma vertigem. Só homens dentro... Dezenas e mais dezenas deles.
Maldito dia para ter saído de casa de saia.
Maldito dia para ter saído de casa.
Maldito dia...
Os novos modelos de transporte público foram projetados com um espaço maior entre os bancos para a circulação livre dos passageiros. Para todos, menos para ela.
Ao tentar atravessar a catraca, todos parecem dar um passo ao lado no corredor, somente para poder ter o prazer de esbarrar no seu corpo perfeito.
Ela se espreme, se esforça, sente mãos, suspiros e ereções, mas mesmo assim persiste até os bancos altos do fundo, onde há, onde meticulosamente SEMPRE há um lugar vago para alguém tão linda e loura.
Ao se sentar, cruza as pernas bronzeadas e é atravessada pela pressão de todos os olhos que se concentram na possibilidade de verem sua calcinha.
A cada lombada, o motorista obeso insiste em não desacelerar e os passageiros dão vivas com o movimento do decote bem dotado.
“Teu pai é pirata pra guardar um tesouro desses em casa?!” balbucia um bebum com a camiseta do Corinthians ao seu lado.
“Teu pai é mecânico? Porque você é uma graxinha!” diz um caolho com o boné “para o bem do povo, quero Lula de novo”.
E então é um festival de elogios e cantadas desferidas em direção aos seus pobres ouvidos de princesa.
A rapaziada canta, grita e se diverte, mas, duas horas depois, no ponto final, todos descem e continuam suas vidas medíocres com suas esposas horrorosas.
Ela, linda, loura e pobre, se atira do viaduto do Chá.

Moral da história: Seja bonito e compre o Novo Fiat Siena 2008.

[[to realmente me superando...]]

4 comentários:

Fernando Vidotto disse...

pois é! espero conseguir outro fim pra minha vida doq ter q me jogar do viaduto do chá!


=]

Bruno Bello disse...

era pra entender algo? acho que meu cerebro atrofiou d+ nessas ferias ><

Slash disse...

péra, deixa eu ver se entendi, é para tomar um chá num carro novo para nao sofrer assédios?

Mococa disse...

a moral eh d q nao adianta vc ser bonito se eh pobre...

energumenos.

xP